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sábado, 2 de abril de 2016

A volta do pulsar em um coração dado como morto...

Há quase 14 anos atrás, pisei pela primeira vez no ginásio Pedrocão para assistir a uma partida de basquete. E não foi por vontade própria. Entrei porque o rapaz que me dava carona para voltar da faculdade, quis dar uma paradinha para ver o final do jogo. Eram os jogos regionais. Franca x Araraquara. Franca com um time limitado, sem patrocínio, sem grandes estrelas...
Foi paixão a primeira vista... o clima, a euforia das pessoas, o amor... tudo me envolveu e na semana seguinte já estava sentada ao lado da Dona Hilda e da Wanete torcendo pelo Franca Basquete.
Os anos se passaram... Hélio Rubens voltou e trouxe um time de grandes ídolos francanos de volta... montamos a primeira torcida organizada... Tradição... fundada em um domingo, no portão principal do ginásio... Eu, Renato, Carlos, Cassio e Pexeiro... (não lembro se o Marco também foi nesse dia...)
Menos de um ano depois, evoluímos a Tradição para a famosa, invejada e amada Torcida Dus Infernu. Meu Deus... Foram os melhores e os piores anos da minha vida.
Vou começar pelos piores para tirar esse ranço de vez... Foram os piores, porque eu sofri bullying cibernético. Na época isso nem existia... na época era só pegação no pé mesmo... Vivi os piores seis meses da minha vida... acusada de pedofilia com meus alunos, já que insinuavam que eu "saía" com eles... levei fama de vadia, de Maria Basqueteira, porque tinha amigos jogadores... Tive minha vida monitorada e narrada em uma comunidade do falecido Orkut. Mas eu superei. O basquete tinha se tornado minha paixão e mesmo tudo isso que vinha me acontecendo, não conseguiu apagar aquela chama que tanto ardia no meu coração. Foi terrível, mas passou. Virou passado. Deixou marcas que às vezes doem... mas passou...
Os melhores anos da minha vida...
Anos se passaram. A TDI se consolidou como uma família... Quantos passaram por ali? Na verdade acho que nenhum de nós nunca saberá. Ok, eu assumo. Nós da ala feminina sempre fomos muito mais seletivas do que a ala masculina. Afinal, mulher sempre tem que arrumar uma encrenca...
Meus melhores amigos são pessoas que o Franca Basquete trouxe pra minha vida... A maior paixão que tive na vida... um amor platônico, também aconteceu por causa do Franca Basquete. Meu relacionamento mais duradouro, só começou por causa do Franca Basquete. Quantas cidades eu conheci, dirigindo ou de ônibus ou de van graças ao Franca Basquete? Quantas pessoas maravilhosas eu conheci nessas cidades, graças ao Franca Basquete? Quantas culturas diferentes eu trouxe pra minha vida graças ao Franca Basquete?
O Franca Basquete foi durante muitos anos, o meu porto seguro. A minha válvula de escape. A minha razão de conhecer leis, caminhos e pessoas... Minha razão por brigar com torcedores de outros times... de enfrentar a truculência de policiais despreparados para defender que estava comigo... Quantas vezes sem saber o que fazer da minha vida, eu corri para as arquibancadas do Pedrocão e consegui enxergar uma solução assistindo aos treinos...
Quantos bombons eu comprei para mostrar aos jogadores que nós confiávamos neles... Quantos aniversários celebramos juntos naquela quadra... Quantas famílias se tornaram parte da nossa família TDI naqueles degraus... Quantos marmanjos voltaram a ser crianças com nossas línguas de sogras e chapéuzinhos... Meu Deus... quanta coisa linda eu vivi dentro do ginásio Pedrocão... E quantas coisas lindas eu vivi, graças ao Franca Basquete.
Mas infelizmente, há dois anos, uma confusão trouxe a tona a mediocridade do ser humano... A ânsia por querer ser maior do que o outro fez com que a minha integridade física fosse ameaçada. E coisas que eu acreditava que só acontecia entre bandidos de torcidas organizadas, aconteceu comigo. Fui ameaçada de morte, por pessoas que eu já havia chamado de amigo um dia... e de conchavo com essa pessoa, estavam pessoas a quem eu chamava de amigos também... Para mim, essa história foi um balde de água fria. A partir deste fato, fui me retirando de cena. Deixando de lado minha paixão em troca da minha sanidade mental e minha segurança.
No começo desta temporada, meu coração já gelado pelo rancor, não me permitiu ver o lado humano do novo time do Franca Basquete. Não me permitiu ver os jogadores como seres humanos limitados, mas que estavam vestindo a camisa do meu time e dando o melhor de si.
Por meses, meu discurso para com esse time foi recheado de ódio, já que não me permiti entrar na vibe deles. Ir ao Pedrocão se tornou um fardo. Uma obrigação. Não mais um lazer que tanto me alegrava. Não mais o meu refúgio, meu porto seguro. Perdi jogos, por preguiça de ir ao ginásio. Atrasei para partidas, porque não me preocupava em saber datas e horários. Me afastei de amigos queridos. Me tornei uma pessoa fria e crítica. Fiz críticas duras ao time, aos jogadores e a diretoria. Me afastei. E quanto mais eu me afastava, menos feliz eu me sentia... Uma parte de mim estava incompleta.
Hoje, no jogo contra Rio Claro, válido pelo playoff do NBB, fui para o jogo cumprindo mais uma vez a minha "obrigação" de sócio torcedor... Mais uma vez me sentei no meu cantinho perto da grade e fiquei alheia ao jogo... preocupada ora com o celular, ora com as pessoas da arquibancada, ora perdida nos meus pensamentos... Foi um jogo pegado. Pau a pau... com direito a uma bola do meio da quadra do Cauê Borges... Tão criticado por mim e por muitos... bola essa que nos levou para a prorrogação. E que terminou nos levando a uma vitória bem das sofridas viu... Vitória com cara de Franca Basquete...
Ao final do jogo, o Sr. Lula fez o ritual que se repetiu ao longo do seu trabalho aqui em Franca... esperou que todos saíssem da sua frente e virado de frente para o reduto da querida TDI, bateu fortemente no peito e segurou o escudo do Franca com os olhos cheios de brilhos... com a chama que não morre do basquete francano... E isso me comoveu. E não foi pouco. Chorei no Pedrocão. Poque nesse momento eu senti uma leve batida de paixão no meu coração. Meu coração que eu achava que havia abandonado o basquete, começou a bater freneticamente... como se gritasse para mim... ACORDA MENINA! NÃO DESPERDICE SEUS DIAS VINDO AQUI E NÃO APROVEITANDO! VIVA O BASQUETE! VIVA A SUA VIDA! VOCÊ PERTENCE A ESSE LUGAR, ASSIM COMO O BASQUETE PERTENCE A VOCÊ!
Claro que como durona que sou, enxuguei a lágrima que escapou e segui a vida... Mas o coração não sossegou... até que me entreguei. Deixei que as lágrimas rolassem... Deixei que o rancor que eu sentia cada vez que olhava para "aquele lado" que tanto quis meu mal, saísse de dentro de mim. Me permiti lembrar o quanto de histórias eu tenho pra contar sobre o Franca Basquete na minha vida. Me permiti me lembrar que meus alunos, minha família e meus amigos sabiam que o basquete era minha paixão e que a única pessoa que eu estava enganando era a mim mesma...
E quando tudo isso aflorou em mim, lá estava a voz da minha consciência, ou a amiga Taci para falar o que eu precisava ouvir e mostrar o que eu não queria ver...
Fui muito injusta com os jogadores do atual elenco do Franca. Falei mais do que devia. Critiquei além do necessário. Não apoiei. Não fiz o que havia prometido ao Sr. Lula. Eu abandonei o time e comigo trouxe uma infinidade de pessoas... Não posso voltar atrás e consertar o que fiz de errado nessa temporada. Bem como não vou viver os momentos que perdi, guardando rancor. Mas hoje... meu coração voltou a pulsar de um jeito que eu achava que ele jamais voltaria a bater... Ver o Lula olhando para nós, agarrando a camiseta e chacoalhando ela, me fez "ler seus pensamentos"... "Eu sei que vocês sempre estiveram ai para nos apoiar. O momento é difícil, eu sei, mas também sei que vocês não vão abandonar o Franca".
Pois é, eu não vou abandonar o Franca, porque o Franca está em mim, muito mais do que eu imaginava. O Franca está nos meus amigos, mais do que eles imaginam. O Franca sempre permanecerá.
Obrigada ao Lula por me fazer voltar a sentir o amor que tanto tive pelo Franca.
Obrigada a esse time, cheio de jogadores subestimados por mim e pela maioria dos torcedores, por mostrarem que o espírito de luta do Franca Basquete vive dentro de vocês.
Obrigada aos meus amigos de Dus Infernu que não permitiram que eu deixasse de ir ao ginásio.
Obrigada a diretoria que vem aos trancos e barrancos, tentando acertar as coisas no Franca.
Obrigada em especial a Taci que me fez enxergar que esse tipo de amor é puro e genuíno e que não é vergonha me emocionar por conta dele.

Não sei o que o futuro reserva para o Franca Basquete. Não sei como vai ser a próxima temporada. Só sei que não vou mais me arrepender de não ter feito minha parte. O Franca Basquete é uma parte importante na minha vida. Doa a quem doer. Nada e nem ninguém tem direito de decidir o quanto eu vou me envolver, só eu mesma. E já aviso que vai ser muito. E se reclamarem, vai ser mais!

Vai pra cima deles Franca! Vai com determinação! Tu que és o glorioso, visto seu manto com amor e emoção!

NÃO MORREU E NEM MORRERÁ ESSA CHAMA NO MEU PEITO!
SOU FRANCA! SOU BASQUETEBOL!
HONRA E GLÓRIA POR DIREITO!